NO TEMPO DO KICHUTE

Fotos: walter ney

Este é o Formiga, garoto bom de bola que treina na Escolinha Terra Vermelha Futebol Clube - Londrina. Dá pra sentir que o Formiga é cheio de estilo: chuteira colorida da Nike. Isso mesmo, hoje a molecada já entra  nos campinhos das vilas vestida com as melhores marcas do mercado.

Sou da era do Kichute, anos 70. O Kichute foi lançado na época da Copa do Mundo do México, pois a Seleção Canarinho estava jogando muuuiiita bola. Era a sensação da meninada, pois parecia uma chuteira. Era barato e muito resistente, mas também dava um chulé danado...

O charme do Kichute também estava na maneira de amarrar o cadarço. O cadarço era tão comprido que dava prá dar várias voltas na canela e também passando-o por baixo do tênis. Hoje seria cafona e alvo de chacota se algum menino aparecesse com os cadarços amarrados na canela. Provavelmente iria ser o último a ser escolhido, um "caneludo".

Hoje o Kichute é peça de museu. Dizem que com as derrotas da Seleção Brasileira em 82, 86 e 90, as vendas da chuteira da molecada caíram.

Mas deste tempo saudoso temos boas memórias, como o delicioso livro MENINOS DE KICHUTE, do Márcio Américo, que já está em sua segunda edição e também inspirou o filme homônimo. Mais notícias no blog http://meninosdekichute.zip.net/ 

CIDADE VAZIA

Brasil x Coréia do Norte. O relógio do Calçadão de Londrina marca 15:57h... É a segunda Copa que na hora dos jogos do Brasil saio caçando cenas. Apenas eu e alguns descamisados andam pelas ruas desertas. 

Com o meu olhar vou colhendo histórias alegres, poéticas e tristes. 

Este senhor de cadeiras de rodas, por exemplo, me pediu para levá-lo até o boteco mais próximo para assistir ao jogo. Atravessamos o calçadão até o Chopão... Tivemos sorte: chegamos bem na hora do primeiro gol do Brasil.

Fotos: walter ney

ADEMIR DA GUIA

Qualquer tentativa em discorrer sobre o futebol refinadíssimo de ADEMIR DA GUIA, a primeira lembrança é o poema em que João Cabral de Melo Neto, um dos nossos maiores poetas, escreveu sobre o genial jogador do Palmeiras.  Este poema é de uma sensibilidade assustadora:

ADEMIR DA GUIA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o

Ritmo morno, de andar na areia, 
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando

o mais irrequieto adversário.

Foto: Lancepedia

FAMÍLIA DIVIDIDA

ESTA É DECORAÇÃO DA SALA DO MOACIR

ESTA É A SALA DO ADEMIR

A FAMÍLIA DOS "MELEIROS" É DA CIDADE DE CORNÉLIO PROCÓPIO, NORTE DO PARANÁ. SÃO 25 PESSOAS CONVIVENDO EM 5 CASAS JUNTAS. TODOS SÃO MUITO UNIDOS, EXCETO... BEM, EXCETO QUANDO HÁ JOGO ENTRE O SANTOS E O CORINTHIANS. DE UM LADO TEM AS CASAS DOS SANTISTAS E DO OUTRO AS DOS CORINTIANOS. MAS É SEMPRE UMA GRANDE FESTA. NO CHURRASCO DEPOIS DO JOGO CHEGA A REUNIR QUASE 100 PARENTES. 

TRABALHAM COM MEL, DAÍ O APELIDO DE MELEIROS.

Fotos: walter ney

DONA SEBASTIANA e DONA SENHORINHA

Dona Sebastiana é diarista e nas horas vagas é lavadeira. Lava as camisas de times de várzea da cidade de Cornélio Procópio. Ela me faz lembrar dos tempos em que eu jogava o amadorzão aqui na região de Londrina e era a Dona Senhorinha que lavava o "fardamento". A Dona Senhorinha gostava mesmo era quando traziam os jogos de camisas dos times aspirantes e titulares. Ganhava uns trocos a mais... Pra quem não sabe nos anos 60/70 era comum nos jogos em fazendas o time aspirante jogar a preliminar. Os aspirantes eram os pernas de pau. Um ou outro que sobressaía subia para o time titular.

Foto: walter ney

TUDO AZUL NA ÁFRICA DO SUL

É só andar nos bairros da periferia que encontramos logo um campinho cheio de moleques batendo uma bolinha. Agora então na época da Copa parece que a febre aumenta... E não tem hora pra acabar. Esta turma não estavam nem aí, brincavam ao anoitecer. 

Fotos: walter ney

VOVÔ, VAI COMEÇAR A COPA!

Inauguro este blog justamente no dia em que começa a Copa do Mundo, 11 de junho de 2010. Com ele faço uma homenagem  ao meu querido neto de quatro anos, o CAUÊ. Ele é muito espirituoso e tem umas tiradas sensacionais. O único defeito dele é que ele é corintiano... No último jogo do Santos, ele me saiu com esta:

"Vovô, você tem que mudar de time. Vai começar a Copa e eu já estou torcendo para o BRASIL!

Fotos: walter ney