Qualquer tentativa em discorrer sobre o futebol refinadíssimo de ADEMIR DA GUIA, a primeira lembrança é o poema em que João Cabral de Melo Neto, um dos nossos maiores poetas, escreveu sobre o genial jogador do Palmeiras. Este poema é de uma sensibilidade assustadora:
ADEMIR DA GUIA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.
Foto: Lancepedia